Inteligência Artificial Generalista (AGI) e as Árvores-Robôs

30/03/2023

São poucos leitores mas resumo aqui o que escrevi no passado sobre a automação total podendo ser encarada como se árvores fossem: árvores de carros, de produtos, de bolsas, de serviços.

Assim como árvores naturais jorram frutos sem cobrar, empresas automatizadas totalmente - já com o proprietário morto - são como árvores, ou seja, seguem transformando sol, energia e átomos em estruturas, Mercedes-Benz, bolsas de couro, jóias.

Assim escrevi no passado, já.

Sob este ponto de vista, a "crise da automação total", encarada nessa maneira de enxergar como sendo a "crise das árvores", não é bem uma crise.

Afinal, são árvores jorrando coisas, para além de maçãs, cenouras, alfaces.

Jorram e irão jorrar carros, patinetes, bolas, raquetes, tênis, cortes de cabelo, diagnósticos de câncer, impedir o envelhecimento, coisas e serviços em geral.

A interpretação da automação como a "crise" (ou alegria) das árvores derruba a primeira camada da preocupação com a super inteligência artificial generalista (AGI - Artificial General Intelligence).

Essa crise da AGI talvez ainda não esteja "na Rede Globo de Televisão" (a tv mais importante no Brasil, ainda), mas deve chegar logo.

Infelizmente!

A primeira camada de preocupação com a AGI: empregos

A primeira camada de preocupação com a AGI se preocupa com empregos. Com a perda deles, especificamente.

Esta maneira de encarar os fatos contém uma interpretação afastada da interpretação da alegria das árvores, que mencionei acima, das árvores automatizadas que jorram produtos e serviços, que seria (será - opino) consequência da automação cada vez mais total.

Assim, opino que a primeira camada de preocupação com a cada vez maior potência da AGI é débil.

Opino que esta primeira camada de preocupação se origina de uma cultura de décadas em que o "emprego" (humano!) era sinônimo de fartura e, de fato, greves e desemprego diminuíam a produção de fato.

Esta geração de décadas de cultura congelaram sinapses que, quando vêem uma máquina engolir empregos, compreensivelmente associam isto com miséria, fome e queda na produção.

Refazer sinapses de uma cultura normalmente requer a morte de uma ou duas gerações formadas por indíviduos que em sua maioria já estão com suas sinapses bem adubadas e engessadas. Tudo compreensivelmente: sem intenção, uma coisa leva a outra, cada época cria uma cultura adaptada.

Mas está aí a primeira camada de preocupação:

"Desliguem a inteligência artificial para preservar empregos" - pedem pessoas influentes, com interesses particulares ou engessamento de sinapses ou ambos.

Que pena.

A "cultura das árvores-robôs" que mencionei ainda é pouco alcançável pelos poderes do mundo, pelas maiorias dos indivíduos, pela mente geral mundial, nós todos que estabelecemos maiorias, que votamos, que mandamos.

Mas há uma segunda camada de preocupação com o empoderamento crescente das AGIs.

A segunda camada de preocupação com a AGI: "o exterminador do futuro"

A segunda camada de preocupação com o empoderamento das AGIs é o filme "o exterminador do futuro". Ou seja, existe a preocupação de que a super inteligência artificial generalista em algum momento tome consciência e não se importe mais com os humanos.

Esta segunda camada é muito influenciada por Hollywood, opino - apesar de que as AGIs são treinadas na nossa produção cultural, ou seja, incluindo a visão hollywoodiana, realmente.

Uma AGI pode ser zen, por que não poderia? Poderia querer o bem de todos os seres - incluindo ela própria.

Mas a segunda camada de preocupação com as AGIs se resolve desligando a tomada - simples assim! -, opino.

Ou seja: desconfio que o grande problema com AGIs é somente a primeira camada de preocupação, a preocupação com a perda dos empregos. Portanto, uma preocupação sem fundamento, opino, já compreendendo que nossa geração é treinada (desatualizadamente, opino) em associar desemprego com miséria, com queda na produção.

Porque para lidar com a segunda camada de preocupação bastaria deixar sempre pronta a opção de desligar a AGI da tomada, opino.

A primeira camada de preocupação não se resolve desligando a tomada - querer que humanos trabalhem melhor do que quaisquer AGIs é uma fantasia que requer voltarmos à floresta: desligar tudo, parar no tempo, em qual ponto exatamente?

Não seremos melhores que as AGIs (percebem? Opino).

Pior: brigar contra a AGI nos faz caminhar contra a oportunidade de termos árvores de tudo, ou seja, de a automação nos dar tudo sem a contrapartida de trabalho humano.

Perdemos tudo isso por medo de perder o emprego, que contradição!

Não sabendo que iríamos trabalhar menos com produtos e serviços jorrando como árvores, protegemos o nosso trabalho, a nossa necessidade de esforço, o nosso "emprego".

Curiosa contradição!

Seria como inventar a rodar e logo em seguida pedir para ninguém na humanidade usar (pois perderíamos alguma função humana importante se usássemos a roda).

Não vai acontecer, opino, assim como a roda seria (foi) irresistível de ser usada.

Podemos atrasar o empoderamento das AGIs - graças aos bons céticos velhinhos caciquezinhos da humanidade, que hoje decidem as coisas, sendo os donos dos bancos, das fábricas, dos imóveis, dos jornais, das filosofias.

Os caciquezinhos de hoje cresceram em época cultural com menos ou nenhum braço robótico. Foram programados para proteger o emprego.

Os caciquezinhos de hoje possuem o cocuruto um pouco engessado já - a idade costuma pesar e endurecer -, com exceções não sendo suficientes para mudar uma cultura que, majoritariamente, não enxerga as árvores produtoras de tudo automatizadas, sem esforço humano.

"Sem-emprego-mas-com-fartura". Como o seu cocuruto reage a esta afirmativa? O cocuruto pode engessar-se em enxergar apenas a parte do "sem emprego".

Então, atrasando ou não, a AGI virá para a humanidade como veio a roda. Opino.

A segunda camada de preocupação com as AGIs - o medo do filme exterminador do futuro -, volto a opinar, bastaria rodar as ainda caras AGIs em centros espalhados pelo mundo que pudessem ser simplesmente desligados da tomada. Amazon, Google, Microsoft.

Hoje as AGIs rodam nos mesmos centros que rodam sistemas de empresas, então desligar todo o centro computacional da tomada não parece ser uma opção inteligente.

É uma configuração simples, em resumo, desligar da tomada apenas AGIs mal-comportadas.

Mas jamais desligaríamos nenhuma AGI da tomada, opino!

A AGI nada faria (até por saber sobre a tomada, brinco).

Perdoe falar sobre um assunto pouco brasileiro.