Pode parecer que o dinheiro te trai.
Assim: você tem um zilhão de dinheiros.
Isto pode atrair pessoas.
A aparente traição é que quando você não está olhando, muitas destas pessoas ficam olhando para seu dinheiro (não para você).
Mas esta traição é aparente, não tão real. Ou seja, você não é corno do seu próprio dinheiro - se o dinheiro for muito, volumoso.
Agora a parte que mais gosto: Por que a pessoa olhar para seu dinheiro, disfarçadamente, quando você está distraído, não é traição?
Lá vai:
Porque o mesmo raciocínio vale para aquela barriga tanquinho bem gomada, hiper desenhada. Sem dinheiro agora!
Quando você não está olhando - ou até mesmo sem disfarçar - a pessoa vai mirar na sua barriga tanquinho e ficar admirando, babando, boquiaberta.
Qual a diferença entre zilhões de dinheiros e barrigas-tanquinho?
Ex-ce-len-te pergunta!
Tem mais:
Adiciono um cérebro intelectual de gênio. Sem barriga tanquinho e sem grana. Pegou o raciocínio? Explico mais este: você pode ser corno de seu próprio cérebro? Você pode perceber as pessoas em seu redor olhando admiradas para seu desempenho intelectual. Muitas vezes sem nem disfarçar. Quando você quisesse - será? - um amor simples, puro: por você.
Mas o que é você se não um grande cérebro? Ou uma grande conta bancária? Ou uma enorme proporção de músculos barra gordura?
Poderia acrescentar mil itens na lista: um incrível piloto de corrida. Um gênio do design. Uma perfumista inigualável. Um desempenho sexual delicioso-sempre (etceteras).
Mas podemos ser os três: cheio de dinheiros, com barriga tanquinho, super inteligente, safo.
Podemos ser corno de três itens ao mesmo tempo? Ou de infinitos itens?
Por exemplo: tenho alguma grana, uma personalidade única (mas não gênio), uma sarda nesta posição, uma série de coisas comuns únicas.
É possível ser traído por minha própria singularidade?
Você gosta de mim - "pra valer" - ou de uma série de características minhas?
Esta é uma ex-ce-len-te pergunta!
É por isso que eu não iria com tanta sede ao pote dizer que tal pessoa está com y pessoa por causa do [preencha com seu recalque: dinheiro? Músculo? Cérebro? Mil coisas] dela.
Este paradoxo do interesse versus "amor puro e simples" atinge qualquer singularidade que nos forma.
Temos medo - estrategicamente - é de perder admiração para alguém que tenha mais daquilo que é admirado em nós.
Se for dinheiro - que simplificação, mas pode acontecer com dinheiro - então realmente não é difícil ser traído pelo próprio dinheiro - uma sensação de que não estão olhando pra ti, pra dentro de ti, mesmo (cartões de crédito, pix, sim) e nem mesmo é difícil aparecer outro montão de dinheiro (ao redor de outra pessoa).
Idem para barrigas tanquinho (triceps, taxa de gordura, desenhos abdominais).
Idem para tudo e conjuntos de tudo?
A não ser que a característica ~seja~ nós. Ser! Você seja o seu dinheiro (o suor e-ou a sorte, o orgulho de ser - não apenas ter - o dinheirão). Você seja sua barriga tanquinho. Seu cerebrão poderoso.
Olhar para seu dinheiro não te ofende: orgulho! Olhar para sua barriga-tanque não te ofende: muito obrigado! Sou eu mesmo. Olhar para o desempenho intelectual seja olhar para você. Ou o desempenho genital seja você. Eu sou grana. Sou tanque. Sou cerebrão. Sou órgão genital deslumbrante. Sou características genéticas. Sou [isso, isso e aquilo].
Aí não há dicotomia entre você e suas singularidades.
Não impede que a singularidade admirada em você apareça em outro lugar e leve, com isso, coisas e pessoas que você queria que permanecesse com você.
Se forem muitas singularidades, difíceis de existir, admiráveis, a segurança aumenta.
Somos poucos humanos vivos na terra em cada geração, também não é para teorizar muito sobre singularidades. Não somos tantos assim.
A ciência ajuda: ela fala em competição e cooperação. Competimos de verdade e cooperamos de verdade. Traímos de verdade e estamos juntos de verdade.
Quando, por quanto tempo, com que intensidade, baseado em quais premissas, que duram quanto tempo, pode revelar coisas que eram ou são você. Por tanto tempo.
Um beijo gostoso pode acontecer entre pessoas que têm esta habilidade.
E um beijo gostoso em quem tem habilidade de ter um montão de dinheiro? Para simplificar, vou criar a hipótese de que o indivíduo especializado em grana não é muito craque na área da língua na boca.
Nesta situação muito particular está havendo uma troca. Um tipo de cooperação - mas de produtos diferentes: alguém tolera um beijo com olho em grana. Outro tolera inabilidade com grana em troca de um beijo.
A cooperação pode ser de um mesmo produto: pessoas malhando barrigas-tanquinho juntas. Ou o sexo mais profundo entre pessoas de sexo mais profundo.
É território espinhoso flertar com a essência de amor? Não consigo finalizar.
A sincera cooperação é "infinita" enquanto dura (Vinicius de Morais: que [o amor] seja infinito enquanto dure).
Mas somos caveiras com colágeno, dinheiro, resiliência (um pouco), saliva, sêmen. Prazer e (fuga da) dor.
