Onde estamos?

19/09/2023
emptiness.

O profissionalismo que chegou ao instagram está espantando aquele amadorismo que havia no início. Lembra? Aquelas fotos pessoais. Você no restaurante. Sua família reunida no sofá. Aquelas postagens menos trabalhadas.

Mas isso é notícia velha.

Quero chegar nisso:

Nesta notícia já velha, os profissionais especialistas em postagens que espantam as postagens amadoras ainda são humanos. Humanos expulsando humanos, portanto.

Por quanto tempo estes profissionais especialistas em postagens precisam ser humanos?

O chatGpt consegue elaborar uma postagem para qualquer plataforma, por exemplo com um teaser bem chamativo logo no início e uma "call to action" no final, ou no formato de qualquer estrutura de marketing profissional do momento. Basta literalmente pedir.

Portanto um dia os profissionais ainda humanos do instagram devem ser substituídos pelo profissionalismo ainda mais competente de chatGpts.

Percebemos um cenário novo?

Todos os humanos - nosso lado amador, nosso lado profissional - acabam expulsos da rede social.

Esqueci de dizer que a rede social é, em tese, uma nova rua, uma nova calçada, um novo parque para encontros.

Esvaziadas as redes sociais, estaríamos esvaziando o encontro. As ruas e praças de telas de vidro.

É possível lutemos contra essa tendência. É possível que não abramos mão do encontro humano.

Mas não é obrigatório.

É possível que troquemos, sim, gradativamente, a relação humano-humano pela relação humano-chatGpt. Cada vez mais.

Se for para encontrar profissionalismo, dispensar o humano na equação do encontro é praticamente certo.

Como já acontece no instagram. No instagram humanos amadores já foram substituídos por humanos profissionais. Onde o profissionalismo é preferido em relação ao amadorismo - profissionalismo com ou sem a necessidade de humanos produzindo - a audiência seguirá fiel ao profissionalismo, não ao humano que antes havia por trás deste profissionalismo.

O que poderá - será? - restar é um nicho de humanismo. Uma busca pelo amadorismo assumido. Uma busca pelo comportamento "idiota" em comparação com o profissionalismo que haverá.

Mas é obrigatório que isso aconteça? É obrigatório que busquemos humanos e seus erros, enjoando do profissionalismo competente?

É obrigatório restar um nicho de humanismo amador assumido, idiota comparado com o profissional?

Não vejo como certo que seremos fiéis a nós mesmos, humanos com humanos. Não aposto nem lá nem cá. Não sei.

Espero que notem a questão que proponho: o profissionalismo do chatGpt substituirá os encontros humanos que desejem profissionalismo - nisto eu aposto/opino que ocorrerá. O que em seguida não sei é se nós ainda seguiremos querendo "amadorismo humano" "nas horas vagas". Iremos querer "amadorismo humano" "nas horas vagas"?

Mas o que é o "amadorismo humano"? São nossos defeitos charmosos? A falha?

Se for a falha, ou o defeito charmoso, até isso um chatGpt sabe, tranquilamente, reproduzir. Defeitos são tão reproduzíveis quanto criar "call to actions" ou frases iniciais chamativas.

Se nosso "humanismo" - talvez nossas falhas, nossa imperfeição - também for possível de ser imitado, então até mesmo o eventual "charme" do "amadorismo" humano será substituível por máquinas.

Num cenário desses, não só a selva se esvaziaria - faz tempo esvaziamos as selvas -, não somente as ruas e cafés nas ruas - que estamos esvaziando ainda -, mas, até mesmo, as ruas virtuais, estas ruas que deslizamos na vertical com o dedo em telas de vidro, se esvaziariam.

emptiness.

"Emptiness". Imagem produzida para o filme Vanilla Sky (2001).

Assim como tememos, hoje, a selva - mosquitos, cobras -, temeremos as ruas - desviar de carros de uma tonelada, sol forte, chuvas -, poderemos temer até mesmo as redes sociais humanas: amadorismo, falta de competência.

Vamos pensando juntos? Enquanto ainda temos competência relativa para isso.

emptiness. Imagem gerada por um humano (eu) usando cena de vanilla sky.

"Emptiness". Imagem gerada por um humano (eu) usando cena de vanilla sky.